quinta-feira, 26 de maio de 2011

Será que ele é... Será que ele é?

Eu não sei.
Tu não deves saber...
Será que eles sabem?

Um belo gole merece uma bela discussão.

Bon apetit!
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Eu tenho um filho, o Ernesto, mas ele já se foi. Foi morar no Paraná, com a Carlinha, moça bonita com quem casou. E ele tem um filho que já vai para seus 15 anos. Estive conversando com o Ernesto por esses dias e, como temos diálogos saudáveis e gostamos um pouco de discutir essas questões polêmicas, entramos no assunto “kit gay nas escolas”. Já comecei perguntando pro Ernesto como ele pensava que o Castrinho, meu neto – ele ganhou esse nome em homenagem ao anedotário humano que marcou minha juventude –, reagiria a uma espreitada no conteúdo dos vídeos que a presidente, ou presidenta, Dilma teve acesso.

Para quem não sabe o que Dilma viu, eu explico, mesmo sem muita certeza sobre isso: o primeiro vídeo, intitulado “Torpedo”, conta a história de duas amigas que se comunicam por celular e decidem namorar; o segundo, “Encontrando Bianca”, narra a pequena história de um travesti que não se sente bem com roupas de homem, quer ser chamado por nome feminino e usar o banheiro feminino; a terceira película, denominada “Probabilidade” mostra um rapaz que, com a ajuda de um amigo gay, descobre por ele o mesmo que sentia pela namorada. 

Senti-me orgulhoso com o início da resposta do meu filho, que disse que já conversou alguma coisa sobre o assunto com o filho dele, justamente da maneira que eu fazia com meu filho quando ele tinha a mesma idade do filho dele, ou meu neto. O Castrinho, na verdade, se sentiu muito confuso com o assunto e classificou a questão da distribuição como “assunto relativo”. E este foi um outro ponto interessante, porque meu neto já sabia dar respostas evasivas a questões que necessitavam de respostas assertivas. Em breve seriam um filiado político de sucesso e meu futuro estaria garantido.

Esquecendo as digressões e distrações, o que acontece é que o Castrinho viu tudo e começou a bolar seus planos.  O primeiro deles foi querer usar roupas de mulher só pra poder frequentar o banheiro feminino. Ainda chegou a frisar que ele podia chegar a convencer tanto as moças que talvez elas deixassem ele entrar para o “Cobafe (Clube Obscuro do Banheiro Feminino)”, como a galera da escola dele chama. Depois ele se empolgou com a ideia das meninas namorando, mas aí o Ernesto disse que o tom de voz dele se alterou e eu percebi que só poderiam ser os hormônios em manifestação. Por fim, ele disse que tinha melhores amigos, e que sentia até mais por eles do que suas namoradas sem necessariamente ter que dar uns amassos, que era diferente, mas frisou que ia ver se não estava confundindo as coisas: talvez o Marcão desse um caldo mesmo.

Sinceramente, não entendi muito bem as ponderações do meu neto e o Ernesto começou a me perguntar sobre o Palocci. Acabamos falando da Xuxa como garota-propaganda da Monange até minha internet cair, mas não posso deixar de dizer que pensei bastante no que ouvi do rebento de meu rebento e cheguei a uma conclusão: como podemos esperar que meninos e meninas sejam capazes de discernir temas e sentimentos que não fomos capazes de destrinchar em milhares de anos de existência?

O Castrinho sabe que tem liberdade para escolher ser o que bem entender e, para mim, isso é o bastante. Talvez se todos os jovens como ele tivessem essa mesma liberdade que ele tem, não precisássemos de mais uma discussão que nada vai contribuir para a extinção da miséria, melhoria da educação, ou aumento da segurança. Com educação e segurança, homo ou hetero são apenas apêndices de pessoas que fazem um país melhor.

Acho até muito provável que não haja razão nenhuma no que o Castrinho diz, porque o garoto adora uma piada, pegadinha, brincadeira, enfim, sofre desse mal de família. Sempre que pode, faz jus ao nome que tem. Por via das dúvidas, é melhor observar bem o que ele tem a dizer, vai que tem mais alguns por aí como ele... Vou esperar os adultos civilizados, estudados e blá blá blá tirarem suas conclusões para depois voltar ao assunto com o garoto.



Autor: Gracindo Margarida


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2 comentários:

  1. Ao Sr. Gracindo Margarida:

    Concordo em muito, mas em especial quando diz que "Talvez se todos os jovens como ele tivessem essa mesma liberdade que ele tem, não precisássemos de mais uma discussão que nada vai contribuir para a extinção da miséria, melhoria da educação, ou aumento da segurança."

    Infelizmente não é essa a realidade, e temos que tomar um rumo, talvez sair da indiferença. Só não acho que seja assim tão justo deixar Castrinho e seus amigos decidir o que passamos séculos discutindo. Ou talvez até seja, não podemos deixar também que o orgulho da idade nos embace a visão. A vida é assim, cheia de "talvez"...

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  2. concordo. A educação é o caminho que pode fazer com que as pessoas, sejam adultos, crianças ou idosos sejam capazes de respeitar as escolhas e modos de ser de outra pessoa/grupo.

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