terça-feira, 7 de dezembro de 2010

República Anedotária do Brasil

Grande como o país, e igualmente cheia de boas intenções.

O bom-humor vale a pena. Sempre.

Sirvam-se

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Viajo bastante e, de repente, me deu uma vontade súbita de relatar algumas curiosidades. Por exemplo: quando fui ao Sul do país, descobri que catarinense é chamado de barriga verde porque gaúcho tem limo nas costas. Não entendi muito bem, principalmente pela inviabilidade de se criar o tal elemento nas costas de um ser humano normal. A não ser que os gaúchos sejam distantes descendentes do herói “Aquaman”. E aí eu ia querer ser gaúcho também!

Mal sabem os gaúchos e catarinenses do curitibano amalucado que fica ali do lado. O pessoal do Paraná sai todo agasalhado de manhã, tira quase tudo à tarde, e põe tudo de volta à noite. Além disso, não pode ver gente mal vestida que chama logo de “baiano”. Outra colocação que fiquei sem entender, afinal, estou longe de ser soteropolitano.

Subi pelo sudeste, rumo à Bahia. E antes de chegar à terra do querido Raul Seixas, dei um pulo em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em todas as localidades eu me deparava com axé, acarajé e umas barbeiragens no trânsito seguidas de gritos de “olha a baianada!”. Nas primeiras vezes pensei até que já estivesse na divisa e esperava, até com certo pavor, uma manada de baianos correndo em meio a uma micareta de rua me pisoteando todo. Mas depois eu percebi que eu devia ter cara de baiano mesmo: não era só no Sul que se referiam a mim dessa maneira. Percebi, com isso, que tenho de emagrecer, acho que estou com cara de acarajé.

Próximo à divisa com o nordeste, sintetizei as informações e concluí o seguinte: mineiro é um povo que gosta tanto de queijo, segundo os cariocas, que trocaria até pela Carolina Dieckman e a Luiza Brunet, ambas com ou sem lingerie, por um naco do laticínio. Pergunte isso a um deles e ele vai te responder que é melhor trocar por queijo do que por baseado: “queijo pelo menos mata a fome, sô”. Mas nem só de discordância vivem os dois: eles acham que o paulista só aceitava as duas se elas não atrapalhassem o trabalho. Eu até tentei perguntar tirar a prova real de tudo, mas os paulistas estavam ocupados demais, os cariocas não entenderam a pergunta e os mineiros quiseram saber se Brunet era queijo branco ou amarelo. Eu não aguentava mais ser chamado de baiano pelas ruas, troquei de roupa, vendi o carro e resolvi andar de táxi. E não pense que, como você, esqueci do Espírito Santo, que também fica na região sudeste, apesar de muitos afirmarem ser integrante da região Norte brasileira. O que conta é que capixaba é um povo que póca, seja lá o que for isso.

Cheguei à Bahia e adivinha o que comprei logo na rodoviária? Uma rede! Recomendação do Mizael, grande amigo pernambucano. A única coisa que não me deu vontade de comprar na Bahia foi acarajé: gosto de espelho não devia ser muito agradável. Vendi a rede e comprei caruru, vatapá, cocada e azeite de dendê. Aluguei uma rede e fiquei a tarde inteira na praia comendo, olhando a praia e dormindo de vez em quando. Eu e mais uns cinco. Vimos um pacote com notas de cem reais levados pelo vento e torcemos muito pro vento virar e a gente ficar rico, mas não foi dessa vez. Uma sorte melhor nos aguarda.

Levei garrafas de azeite de dendê para toda a família e descobri que virei traficante do produto. Pelo menos foi o que disseram os policiais que me prenderam na divisa com o Piauí. Fiquei três dias presos ouvindo cada história... Só de caminhão de boia-fria dava meia dúzia de livros. E se contar quantos personagens, dá mais que a bíblia. José, João, Antônio e Moisés era o que mais tinha naquele nordeste anedotário.

No xilindró, descobri alguns fatos interessantes: no Rio grande do Norte o pessoal deve gostar muito de Caju, pois já recebi convite para a Festa do Caju do ano que vem; desconfio que tentaram me enganar, mas muita gente afirmou que Sergipe é uma gleba da Bahia; só em Pernambuco é que se dança frevo, porque o ser humano já evoluiu há muito, e uma curiosidade: Pernambuco é o único Estado que não repete letras em seu nome, o que representa uma diversidade letral interessante; o Ceará não é da Bahia, é do Ciro Gomes, e o arco-íris de lá ainda surge em preto e branco, segundo os mais sabidos, nasce da cabeça de cidadãos selecionados. Alagoas, segundo alguns cientistas da prisão sergipana, não é do Ciro nem da Bahia, é do Renan Calheiros e, segundo a ala dos geógrafos, sim, há lagoas em Alagoas. O nordeste em si, parece uma série de concessões, por que o Maranhão é do Sarney e de Jesus... guaraná Jesus.

Eu saí da prisão mesmo graças à ajuda de mais da metade da população de Teresina, que se compadeceu das minhas histórias e pagou a fiança. Não que ela fosse cara, mas sabe o que candango diz do povo Sergipano né... Fui saber quando cheguei ao centro-oeste. Mas dessa vez quem ouvia os gritos era o taxista, natural do estado vizinho, porque o os outros só gritavam “olha a goianada!”. Talvez eu nem tivesse mais com cara de acarajé.

Cheguei em Brasília 19 horas, na hora da “Voz do Brasil”. Meia hora depois, arrumei uma maneira de ganhar muito dinheiro, só não posso falar como. Então fui de avião, primeira classe, para Cuiabá que, além de ser pejorativamente abreviada, é... só abreviada mesmo. Em lugar que não aparece na Globo, eu não permaneço. Justamente por isso, tive uma passagem relâmpago por Campo Grande, uma fazenda gigantesca.

Faltava só o Norte e, como eu já estava muito rico com as empreitadas de sucesso realizadas em Brasília, fretei um jatinho e falei pro piloto que queria ir para o Acre. Ele chegou ao ponto de pesquisar na internet, mas foi infeliz nas pesquisas: era uma gleba inexistente. Resolvi então esticar o trajeto e fui direto para o Amapá, outra concessão feita ao Sarney, onde, segundo a plebe local, ele às vezes se esconde não sei do quê. Para não ser espetado pelo bigode do chefe, rapidamente fui a Roraima e tive o prazer de ver um jogo de futebol do time Ibis, que é a única coisa que já ouvi falar de Roraima. Provavelmente você também. Aterrisando em Rondônia, lembrei do fato que o estado também não tem time da Série A do brasileirão, mas tem peixe elétrico, o que é um perigo que me fez sair correndo de lá.

No Pará aprendi o remelexo do Calypso e soube, finalmente, que Jesus não é brasileiro coisa nenhuma: ele nasceu em outra Belém. Caminhando um pouco mais, me informaram que já estava no Amazonas, mas ninguém sabe precisar muito bem aonde termina um e começa outro ou vice-versa. Talvez a maior expressão de mau-gosto caracterize o Amazonas. Provavelmente o apelido desse estado tão simpático foi inventado por um ginecologista que não se sentiu bem em um ambiente quente, úmido e com muito mato. E antes que eu me esqueça, o Acre também não repete as letras no nome, mas se eu não aviso, ninguém percebe.

Entre minhas idas e vindas, há quem diga que sou um descobridor. Mas eu não descobri o Brasil, isso quem fez foi Pedro Álvares Cabral. Eu descobri estereótipos de anedotas que, em doses moderadas, servem para disseminar, com algum bom-humor, as mais variadas culturas desse país. E para levar um pouco de alegria às pessoas. Afinal, sorrir é saudável. Esqueça as diferenças, apenas sorria e se orgulhe de ser brasileiro.



Por: Jorge Pedrosa



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Um comentário:

  1. Jorge cada dia vc está ficando mais afinado, quero dizer, afiado! Muito bom mas quero ler o livro.

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